27.02.2025 às 22:15h - São Miguel do Oeste

Projeto aprovado na Câmara dá nome de Oscar Pereira para o Caps I de São Miguel do Oeste

Ricardo Orso

Por: Ricardo Orso São Miguel do Oeste - SC

Projeto aprovado na Câmara dá nome de Oscar Pereira para o Caps I de São Miguel do Oeste
Foto: Divulgação/ Ascom

A Câmara Municipal de São Miguel do Oeste aprovou nesta quinta-feira, 27, o Projeto de Lei 2/2025, de autoria do Poder Executivo, que denomina de Oscar Pereira o Centro de Atenção Psicossocial I de São Miguel do Oeste. O nome foi sugerido pela equipe do Caps e homenageia um ex-usuário do serviço da instituição. O projeto foi aprovado por unanimidade e ainda passará por segunda votação antes de ser encaminhado ao prefeito para sanção, quando passa a vigorar.

Durante a primeira votação do projeto, a enfermeira coordenadora do Caps, Silmara Fiore, falou em nome da equipe e destacou a vivência que os servidores tiveram com o homenageado Oscar Pereira. Silmara afirmou que o Caps trouxe um novo olhar sobre o tratamento de pessoas em saúde mental, e que a instituição representa a luta por uma sociedade onde o cuidado seja comunitário, onde a saúde mental não seja um fardo solitário, mas uma responsabilidade de todos.

“Que possamos sempre lembrar que, ao defender o Caps e o tratamento em liberdade, estamos defendendo, antes de tudo, o direito de todos nós à dignidade, à compreensão e ao afeto”, destaca a enfermeira, ao lembrar da relação da equipe com Oscar Pereira: “Era uma pessoa de grande importância e incrivelmente carinhosa, de um sorriso cativante. Lia nossas mãos, previa o futuro (sempre de coisas boas). Sabia todas as capitais e adorava ser desafiado e mostrar seu conhecimento”.

“Homenagear um paciente de saúde mental é uma forma poderosa de reconhecer suas lutas, conquistas e resiliência que demonstram em suas jornadas. Muitas vezes, esses indivíduos enfrentam desafios significativos, não apenas em relação aos seus transtornos, mas também em relação ao estigma e à discriminação que ainda permeiam a sociedade. Ao prestar homenagem a eles, celebramos não apenas suas vitórias, mas também a coragem de buscar ajuda e a determinação de seguir em frente”, complementa Silmara Fiore.

QUEM FOI OSCAR PEREIRA

Oscar Pereira nasceu em 10 de janeiro de 1966 em Palma Sola – SC, filho de João Pereira e Arminda Ribeiro Pereira.

Oscar, popular Ligeirinho, era uma figura muito popular em São Miguel do Oeste, e sofreu a realidade e o sofrimento dos manicômios, passando parte de sua vida enclausurado nestas instituições.

Após a Luta Manicomial e Reforma Psiquiátrica, Oscar passou a receber os cuidados em sociedade. Ele foi admitido no Centro de Atenção Psicossocial de São Miguel do Oeste na data de 12 de março de 2009, onde permaneceu assistido até necessitar de cuidados especiais. Assim, viveu em uma ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos) por cerca de quatro anos, e mais sete meses em Residencial Terapêutico. Oscar faleceu em 15 de agosto de 2024 em Navegantes – SC.

“Oscar é um exemplo de milhares de pessoas que foram esquecidas por anos de suas vidas em manicômios, perdendo suas identidades e sofrendo os horrores destes lugares. Oscar é sinônimo de luta, resistência e enfrentamento das diversas formas de violação e negligência que os pacientes de saúde mental historicamente viveram. Através de sua história e de tantos outras que vivenciaram essa exclusão, nada mais justo prestar esta singela homenagem colocando seu nome no Caps I de nossa cidade, nome este que representará de fato o sentido do nosso trabalho que é o de promover um espaço no qual cada um possa ser livre em suas expressões e acolhidos em seu sofrimento”, destaca a equipe do Centro de Atenção Psicossocial de São Miguel do Oeste.

A equipe acrescenta que Oscar é uma pessoa querida por todas as equipes que atuaram no Caps e pelos demais pacientes com os quais teve oportunidade de convivência. “Cativou e emocionou com seu jeito carinhoso, brincalhão, fazendo suas leituras de mãos, prevendo futuro, compartilhando o nome de todas as capitais, mostrou que a ‘insanidade’ depositada aos ‘loucos’ não diz de uma periculosidade mas sim de ausência de espaço de aceitação na sociedade”, acrescentam os membros da equipe, que elaboraram o histórico do homenageado, e finalizam: “O nosso Caps deve ser porta de acolhimento e espaço de promoção de autonomia, devendo seu nome representar e lembrar que aqui os outrora excluídos têm espaço pra ser”.

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