26.04.2025 às 09:13h - Geral
Com lágrimas nos olhos e orações sendo pronunciadas, milhares de pessoas de todas as partes do mundo se aproximam do caixão do papa Francisco. Velado na Basílica de São Pedro desde a última quarta-feira (23), o lugar se encheu de fiéis que querem fazer uma última homenagem ao pontífice argentino e se reúnem em fila para poder ver Francisco pela última vez.
Uma dessas pessoas é Susana Rigo. Jornalista e moradora de Florianópolis, chegou em Roma no domingo (20) à noite. A esperança era encontrar o papa vivo, em algum momento que ele pudesse passar pelo Vaticano ou pela Basílica. Entretanto, Susana participa do funeral de Francisco, que faleceu na manhã de segunda-feira (21). Agora, se emociona junto de outras pessoas que, assim como ela, se despedem do pontífice.
— O clima aqui é de muita emoção. Há uma movimentação muito grande de pessoas. Eu cheguei aqui no Vaticano no meio da manhã e já entrei na fila para poder participar do funeral. Então, a todo momento chega muita gente. Há pessoas do mundo todo, há imprensa do mundo todo. Durante a fila, as pessoas ficam em silêncio, muitas fazem orações, muitas fazem cânticos católicos — relata.
Apesar do desejo de Susana de encontrar o papa vivo, ela decidiu comparecer no funeral, não só para prestar a última homenagem como fiel, mas também pelo momento histórico.
— Eu decidi participar do funeral porque é um momento histórico. Gostaria de vê-lo vivo, claro, mas é um momento histórico. Por isso, eu decidi cancelar algumas visitações para poder participar do funeral do papa dentro da Basílica São Pedro. Um momento muito emocionante porque as pessoas estão em um silêncio absoluto, apenas as orações feitas pelos cardeais e nós seguimos uma fila até chegar para ver o papa, ver o caixão. Na hora em que eu vi, é uma emoção muito grande, é difícil descrever o que eu senti nesse momento — comenta a jornalista.
A emoção do momento histórico se mistura com a admiração pelo “tipo” de papa que Francisco foi. Para Susana, a herança que Francisco deixa é a união, o amor aos pobres, a humildade e a aceitação. Por isso, espera que após o conclave seja eleito um novo pontífice que possa seguir o legado do papa argentino.
— Ele foi o papa de todos, que uniu a igreja, todos os povos, independente de raça, cor, orientação sexual, foi um papa de todas as pessoas, dos pobres, dos humildes. Uma pessoa de um coração único, muito humano. O que ele fez para a igreja católica eu espero que não regrida, eu espero que a gente tenha um papa tão bondoso quanto, e claro, não vai ser mais um papa da América Latina, mas que seja muito bondoso, amoroso e consiga manter a união das pessoas, a união de todos os povos — clama.
Diferente de Susana, o padre Maxssuél da Rosa Mendonça, de Criciúma, está a cerca de dois anos em Roma estudando e teve a oportunidade de ver o papa ainda vivo, quando o mesmo apareceu da sacada para fazer a benção de Páscoa.
— Esta era a imagem que nós tínhamos naquele domingo: de coração alegre, jubiloso, celebrando a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, ao olharmos para o Santo Padre, era visível a sua debilidade física. Tanto é que ele não pôde fazer a locução e só deu a benção. Mas, esta é uma imagem que vai reverberando no nosso coração, na nossa mente, o esforço que o Santo Padre fez para estar junto do povo no domingo de Páscoa, como sempre ele saudou a todos como irmãos — destaca o sacerdote.
Assim como a jornalista catarinense, Maxssuél pôde reencontrar o papa pela última vez em seu velório. O padre lembra como foi a chegada do corpo na Basílica de São Pedro.
— Iniciou-se com o soar dos sinos e assim fomos acompanhando as orações em latim e levando as nossas preces a Deus em sufrágio pelo papa Francisco. Muita gente, muitas pessoas vindas de todos os lugares do mundo. Podemos dizer assim, sem exageros, que o Papa Francisco foi um homem muito querido não só por católicos, não só por cristãos, pelas pessoas de boa vontade. Ele era muito admirado, seja no mundo da cultura, seja no mundo político e com todas as suas intervenções — comenta o padre.
Maxssuél chegou cedo no Vaticano e pôde observar com maior facilidade as pessoas que acompanhavam o corpo do pontífice. Inclusive, destaca que uma fila gigante de pessoas, de cerca de três quilômetros, chegou a se formar. Todos queriam se despedir de Francisco.
— Eu pude observar assim, rezando, acompanhando um pouco, como isso mexe com todos nós. Muitas pessoas emocionadas, eu observava os olhares acumulados de lágrimas, outros vivendo esse momento com maior serenidade, com seus terços nas mãos, fazendo suas orações — lembra.
Enquanto estava na fila aguardando a chegada do corpo, Maxssuél diz que começou a rezar e, então, veio em sua mente tudo aquilo que o papa Francisco construiu em vida: o seu legado, de bondade, de diálogo com seus pares, do respeito aos pobres e da busca pela paz, cita.
Para o sacerdote, Jorge Bergoglio, o papa Francisco, foi um homem que, em seus discursos, insistiu pela paz. Maxssuél o chama de “profeta da paz”, pois o pontífice mediou e insistiu para que as pessoas rezassem pela paz no mundo. Tanto que no seu testamento espiritual, cita o padre, ele oferece suas dores, seu sofrimento final, pela paz no mundo e pela fraternidade entre os homens, entre os povos
— Outra característica do papa Francisco foi ser um grande amigo dos pobres, que são os refugiados, os imigrantes, os prisioneiros, das diversas periferias da vida humana — cita.
O padre lembra que em uma de suas primeiras viagens apostólicas, ele foi até uma ilha onde pessoas morreram naufragadas buscando melhores condições de vida. Também lembrou que em seu ministério lavou os pés dos presidiários, grandes momentos da liturgia da igreja e da sociedade civil que fez refeições com os pobres.
— Recordando essa dimensão da fraternidade humana que deve ser recuperada em um ambiente onde tantas vezes as pessoas são indiferentes. Ele, que usou esta expressão, este chavão,“a globalização da indiferença”. Então é assim que eu vejo o papa Francisco, como um homem que foi uma grande testemunha do evangelho, um apóstolo da misericórdia, profeta da paz, amigo dos pobres e um grande continuador da tradição da igreja conciliar do Concílio Vaticano — descreve o padre catarinense.
Por fim, o sacerdote fala que, passados estes 12 anos de Francisco como pontífice, para ele, além de seu legado, o que fica é o sentimento de gratidão por “Deus por ter presenteado a igreja com o pontificado do Papa Francisco. Foi um grande presente para o mundo nesses tempos em que a humanidade passa por tantas coisas difíceis”.
Fonte: NSC Total
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