25.08.2022 às 15:53h - Geral

Hang nega risco de golpe e diz que Whatsapp de empresários é “grupo de velhinhos”

Marcos de Lima

Por: Marcos de Lima São Miguel do Oeste - SC

Hang nega risco de golpe e diz que Whatsapp de empresários é “grupo de velhinhos”
Foto: Cristian Losch / Portal Peperi

Luciano Hang, o dono da Havan, está convencido de que suas redes sociais eram o alvo principal da operação que mirou, no início da semana, empresários bolsonaristas que trocavam mensagens em um grupo de Whatsapp, com menções a golpe de estado. “Vão me tornar um mártir”, disse ele, em entrevista exclusiva por telefone à Jornalista Dagmara Spautz da NSC Total.

O empresário reclama do que chama de uma “democracia de um lado só”, e diz que foi criada uma “narrativa” para censurá-lo, tendo como base “um grupo de velhinhos”. O catarinense é conhecido como "véio da Havan". Nas mensagens que deram origem à operação, divulgadas pelo colunistra Guilherme Amado, do portal Metropoles, Hang não faz menção a golpe – mas cita ministros do Supremo.

Na terça-feira, 24, o empresário lançou uma hashtag de apoio que viralizou e ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter. Os mandados contra o grupo de empresários, expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), integram um inquérito que tramita na Polícia Federal em Brasília. As apurações jornalísticas dão conta de que o objetivo da investigação é identificar o financiamento de atos que atentem contra a democracia.

Entrevista: Luciano Hang

Luciano, você tem afirmado que não estava mais se manifestando nesse grupo de Whatsapp. É isso?

Na realidade, não estava mais tão atuante. Eu tenho vários grupos de empresários, grupos discutindo política, discutindo economia, e me adicionaram no final do ano passado nesse grupo em que conheço alguns, a minoria. Dentre eles o Morongo, o Meyer Nigri. No começo fui mais atuante, mas depois que vazaram um print sobre o padre (Julio) Lancelotti, que deu uma polêmica. Eu me abstive de entrar em polêmicas e ficava vendo o grupo, porque uso os grupos para tirar informações para colocar nas minhas redes sociais. Eu me informo através dos grupos de Whatsapp. Desde maio, me abstive mais de comentar nesse grupo.

Qual foi a tua reação à operação? Você teve bloqueio do Instagram, certo?

Vejo com muita tristeza, não para minha pessoa e outros empresários. Vejo como brasileiro. Vivemos ainda, acho, num país democrático onde as pessoas têm o direito de pensar e de livre expressão. O que fizeram ontem foi realmente um estado de exceção, um estado totalitário. Vi a possibilidade do ministro Alexandre de Moraes antecipar, determinar efeitos do que pode acontecer na política.

Ou seja, achando que determinadas pessoas possam influenciar na política, que é o meu caso, corta a rede (social). Me sinto hoje calado através de uma medida injusta. Até acho que fizeram isso (a operação) por mim. Fizeram uma narrativa com um grupo de Whatsapp, utilizando mensagens desconexas, para principalmente cortar as minhas redes sociais. Até porque eu, de todos eles lá, sou o único que tenho milhões de fãs em redes sociais.

Você acredita então que seria para cercear sua atuação política?

Não tenho dúvida. Já fizeram comigo em 2020, cortando o Facebook e o Twitter. O Facebook na época tinha 5,2 milhões de fãs, meu Twitter tinha quase 1 milhão de fãs. E ontem (terça-feira) me cancelaram o Instagram e, de novo, o Twitter. É lamentável que essas medidas estejam acontecendo antes das eleições, calando uma parte da democracia brasileira. Não há democracia quando só um lado pode falar.

Sobre o conteúdo das mensagens. O site Metropoles publicou novas informações após a operação. Você financiou ou pretendia financiar algum ato?

Jamais, eu nunca financiei nenhum ato, inclusive os de Sete de Setembro ou coisa assim, porque sei, tenho que cuidar muito o que eu faço. Todo mundo pode fazer, menos o Luciano da Havan. O que eu faço é olhado com lupa e pode ser interpretado de maneira errada. Uma turma de velhinhos no Whatsapp teve cerceado seu direito de pensamento. Eu tenho 59, estou fazendo 60, mas o resto é tudo de 80, 75, tudo velhinho (no grupo). Quer dizer, um grupo de Whatsapp dos velhinhos querendo tomar o poder? Me poupe, é dar muito valor para um grupo de velhinhos.

Você não levava a sério as conversas no grupo?

Lá se discutia de política ao esporte, de economia a sociedade. E jamais alguém ali pensou em fazer um golpe. Nada mais foi do que uma narrativa bem construída para terminar, no dia de ontem, do jeito que terminou.

O que você pretende fazer? Está tentando recuperar as contas?

Nossos advogados estão tentando ter acesso ao processo, mas também estamos tentando ter acesso ao processo das fake news desde 2020. Tudo que fizeram agora, fizeram lá atrás. E a gente não teve acesso aos autos. Entramos agora com o pedido de acesso e vamos ver o que vai acontecer. Repito, é um momento estranho da democracia brasileira, onde só um lado pode falar, só um lado é democrático. Se as pessoas se vestem de verde e amarelo, pegam a bandeira, fazem uma manifestação pacífica, são consideradas antidemocráticas. Mas um grupo de empresários assinando uma carta junto com o presidente Lula, mais a esquerda brasileira, com outros integrantes da esquerda internacional, ou esses brasileiros que apoiam a ditadura pelo mundo todo, são considerados pessoas e empresários da democracia. O Brasil está virado de cabeça para baixo.

Você é a favor de golpe?

Zero, quem pensa em golpe acho que é a esquerda. Estou fazendo uma viagem esta semana para visitar 30 lojas, para escutar nossos clientes, nossos colaboradores, para melhorar nossa empresa. Vejo Brasília cada vez mais longe da sociedade. As pessoas que trabalham nos governos precisam escutar a sociedade. E a sociedade não está contente com os rumos do nosso país, por isso vota no presidente Bolsonaro, querem mudanças, não retrocesso. O que o empresário falou lá (no grupo) é que ele preferia um governo militar à volta do Lula. E tenho andado pelas ruas, as pessoas me abrançando, e falam abertamente nas ruas do medo do retrocesso do nosso país. O fato da sociedade não querer mais a volta do Lula tem que ser escutado de diversos ângulos. Mas jamais pensar que alguém queira fazer um golpe de Estado. Até porque não foi isso que o empresário falou no grupo, ele disse que estava mais feliz se o Lula não voltasse.

E sobre desrespeitar o resultado das eleições? Porque o presidente é reticente...

Tudo está se alinhando a chegarmos a um final feliz. Vi hoje que muitos dos pedidos dos militares vão ser escutados. O que se quer nessas eleições é transparência. É só isso o que o presidente fala. Aí é claro que a narrativa do outro lado é sobre o ataque à democracia, que não vai se ter o resultado, que vai ter golpe. Eu acho, sinceramente, que a esquerda está amedrontada, apavorada. O presidente Bolsonaro cresce a passos largos e vai vencer essas eleições. Até acho que no primeiro turno.

(Luciano complementa)

Mandamos para a imprensa dois áudios do Guilherme Amado (colunista do Metropoles). Ele diz que não tenho nada a ver com as falas de golpe, de tomar o poder. Inclusive, quando ele passou as outras mensagens (divulgou nova reportagem) é porque ele ficou chateado comigo porque eu soltei aquele áudio (áudio da conversa entre Hang e o jornalista, publicado nas redes sociais). Então, quando ele solta a primeira reportagem, ele prometeu que iria refazer. Ele solta no sábado outra frase que eu disse no grupo que era a seguinte – “nós temos duas saídas para o Brasil, Bolsonaro ou o aeroporto internacional mais próximo” - fazendo alusão aos argentinos, aos chilenos, aos venezuelanos, aos cubanos que querem sair do país deles.

Na terça-feira, quando aconteceu o incidente de busca e apreensão, eu liguei para ele às 9 horas da manhã e disse, Guilherme, eu avise que iria acontecer. Eu já estava esperando. Porque fizeram tudo para que isso acontecesse. As narrativas foram criadas, as mentiras foram feitas através de posts aleatórios que não têm nada a ver. A minha fala no grupo foi atrás de uma fala do Roberto Mota, que é apresentador da Jovem Pan. Ele discorria sobre as eleições, (dizia) que temos que trabalhar, que não está fácil, e eu disse – “eu quero mais quatro anos do Bolsonaro, mais oito anos do Tarcísio, para limpar essa vagabundagem que tem no país”. Quando falei a vagabundagem, é acabar com nossos estado monstro, nosso estado gordo, a burocracia, melhorar o liberalismo econômico. Mas eles colocaram essa minha fala para vender jornal, mas principalmente para tirarem as minhas redes sociais. É tudo carta marcada, é premeditado tudo o que aconteceu. Muita gente da esquerda já sabia tudo o que iria acontecer.

Tens essa informação, de que havia pessoas que já sabiam que a operação iria acontecer?

Você olha o André Janones, o próprio Guilherme Amado falando. Que imprensa pode estar feliz com o cerceamento da liberdade de pensamento e expressão de um brasileiro? Onde está a imprensa brasileira, a OAB, o Congresso, as entidades brasileiras que se curvam a uma medida drástica dessa pensando que um dia não vai respingar em toda a sociedade?

Essa investigação te preocupa?

Nada, quem não deve não teme. Não devo nada, zero. Acho ainda que vão me fazer de mártir.

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Fonte: Dagmara Spautz / NSC

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