24.03.2025 às 18:57h - atualizado em 24.03.2025 às 21:45h - Geral
Uma história que parecia perdida no tempo acabou ganhando um novo capítulo — ou melhor, um encontro emocionante — depois de 66 anos de silêncio. Marli Baldus Artmann, de 54 anos, moradora de Quinze de Novembro, no interior do Rio Grande do Sul, passou parte da vida se perguntando o que teria acontecido com seu avô.
"O meu avô e a minha avó tiveram quatro filhos. Um dia ele foi embora com outra mulher e nunca mais deu notícias. A gente cresceu sem saber nada dele, sem saber se ele tinha outra família, quantos filhos… Era um mistério."
O desejo de saber a verdade sempre esteve presente na família. Marli conta que sua mãe, Lurdes, já idosa, frequentemente falava da vontade de reencontrar o pai e saber se havia outros irmãos espalhados pelo Brasil.
Foram anos de tentativas frustradas, sem saber por onde começar. Até que Marli teve uma ideia, ir ao cartório da cidade. Na primeira tentativa, não teve sucesso. Mas quando houve mudança de funcionários, ela voltou e finalmente conseguiu um caminho, a certidão de óbito do avô.
“A certidão foi a chave de tudo. Lá constava o local onde ele morreu, o nome da mulher com quem ele vivia, e onde ele havia sido enterrado. Foi o ponto de partida.”
A partir dessas informações, Marli usou o Google para pesquisar a cidade mencionada, Belmonte, no interior de Santa Catarina. Descobriu o telefone da prefeitura e ligou. Do outro lado da linha, encontrou ouvidos atentos.
Foi direcionada a funcionária Claudineia Mistura ouviu atentamente o relato. Mesmo com o cuidado de manter sigilo, Claudineia reconheceu os nomes citados e percebeu que a história poderia ser real.
“Ela contou tudo com emoção e muitos detalhes. Eu conhecia uma das filhas do Ari, filho do senhor que ela procurava. Resolvi intermediar com cuidado, falei com o Ari, e aí tudo começou a se encaixar.”
Com a intermediação de Claudineia, Ari Baumgardt, morador de Belmonte, foi o primeiro a receber a notícia. A princípio, desconfiou. Pensou que fosse um golpe. Mas quando ouviu os nomes e reconheceu detalhes, soube que era verdade.
“Foi um choque. Nunca imaginamos que meu pai tivesse deixado uma família com quatro filhos. E agora descobrimos que somos 20 irmãos no total.”
O reencontro aconteceu no último fim de semana em Belmonte. Marli, sua mãe Lurdes, e outros familiares viajaram até Santa Catarina para conhecer os irmãos que nunca imaginaram ter.
Foi organizado um churrasco com direito a confraternização, fotos antigas, lembranças, lágrimas e abraços apertados.
Marli conta que o encontro foi marcado por emoção. A família catarinense acolheu os visitantes de braços abertos, e os laços começaram a se formar ali mesmo, no quintal da casa simples onde tudo aconteceu.
“Perdemos 66 anos. Agora queremos aproveitar o que restou da vida. Ninguém quer mais se afastar. Vamos manter contato, fazer encontros, trocar mensagens... Não dá pra recuperar o passado, mas podemos construir o presente.”
Lurdes, filha do primeiro casamento do pai, conta que passou uma vida sentindo a ausência dele, desde os nove anos de idade. Hoje, mesmo com a dor, sentiu-se em paz.
“Eu só queria ter tido a chance de perguntar o porquê. Mas conhecer os irmãos já me deu um alívio enorme. Foi como preencher um vazio no coração.”
Ari Baumgardt, irmão descoberto em Santa Catarina, diz que a descoberta foi como virar uma chave na memória. Ele, que mal sabia da existência dos irmãos no Rio Grande do Sul, agora quer manter o laço.
“É uma sensação difícil de explicar. Um abraço de verdade, de irmão, mesmo sem nunca ter se visto. Foi um dos dias mais especiais da minha vida.”
Ele também agradece à funcionária pública Claudineia, que considerou como uma peça fundamental. “Ela foi um anjo. Sem ela, a gente talvez nunca tivesse se encontrado.”
A saga de Marli mostra que, mesmo depois de décadas, é possível reconstruir laços que pareciam perdidos para sempre. O reencontro da família Baumgardt é uma dessas histórias que tocam fundo — onde a força da persistência venceu o silêncio do tempo.
“A gente achava que eram uns cinco irmãos… mas eram vinte. Vinte pedaços do mesmo sangue, espalhados por duas vidas. Agora a gente quer caminhar junto.” – finaliza Marli.
Foto(s): Ricardo Orso/ Portal Peperi
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