13.12.2023 às 21:38h - atualizado em 13.12.2023 às 21:39h - Política

Fila de espera e demandas por atendimento são debatidos em audiência

Cristian Lösch

Por: Cristian Lösch São Miguel do Oeste - SC

Fila de espera e demandas por atendimento são debatidos em audiência
Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores

A alta demanda por atendimentos em saúde mental, como psicologia e psiquiatria, e o tempo de fila de espera para esses atendimentos, foram os principais assuntos debatidos em audiência pública na Câmara Municipal de São Miguel do Oeste. O evento, proposto pelos vereadores Paulo Drumm e Marli da Rosa (PSD), foi realizado no plenário da Câmara nesta segunda-feira (11) e reuniu profissionais da saúde e de assistência social, representantes do Poder Executivo Municipal e do Ministério Público, e de cursos de Psicologia da Unoesc e da Uceff. O objetivo foi debater a Política Municipal de Saúde Mental.

A audiência foi mediada pelo presidente Paulo Drumm. Inicialmente, a vereadora Marli da Rosa justificou que há alguns meses, preocupada com o tema da saúde mental, fez um requerimento de informação sobre o tema à Prefeitura. Com a resposta, disse, se deparou com a situação de que há poucos profissionais de psicologia atuando no Município; e que há uma fila de espera de mais de mil atendimentos de psicólogo.

“As pessoas, as famílias, estão precisando de ajuda. Estão gritando, pedindo apoio, elas precisam de atendimento”, alertou, citando que nos últimos 10 anos São Miguel do Oeste teve 49 suicídios. Marli apontou que a pessoa que sofre por sua saúde mental muitas vezes não tem dinheiro para pagar por um atendimento particular.

O secretário municipal de Saúde, Alfredo Spier, apresentou um relatório do Tribunal de Contas do Estado com dados sobre a saúde mental no Estado, incluindo São Miguel do Oeste. Os dados mostram um diagnóstico sobre o atendimento em psicologia e psiquiatria, sobre a estrutura de atendimento, tempo de espera, entre outros.

Destacou que SMO teve 969 atendimentos em psiquiatria neste ano. Para janeiro já há 135 atendimentos agendados, e 90 para fevereiro. Em psicologia, a média de pacientes atendidos por mês é de 78 pessoas. Disse que há cerca de 20% de faltas nos atendimentos, ou seja, de cada 10 pacientes, 2 não comparecem à consulta.

A promotora de Justiça da 3ª Promotoria, Karen Damian Pacheco Pinto, falou sobre a internação, que é a medida mais extrema, a que se recorre quando deu “tudo errado”. Ela ressaltou que a internação não vai sumir com o problema de saúde mental, ela tem outros objetivos, como a desintoxicação de álcool e drogas. “É necessário que a gente pense em novas estratégias, sempre pensando resolver por meio da interdisciplinaridade, com a saúde, a assistência social. É preciso que tenha esse trabalho conjunto”, afirmou a promotora, defendendo um trabalho preventivo. Karen apontou que há uma fila de espera de mais de 1300 pessoas para atendimentos de psicologia, alguns aguardando desde o ano de 2019. E que isso se agrava quando os pacientes são crianças e adolescentes.

Maycon Hammes, promotor de Justiça da 1ª Promotoria, afirmou que “temos um problema real na saúde mental, e é um problema grave”. Disse que quando estava na 3ª Promotoria já ouvia sobre pacientes em fila de espera há três ou quatro anos, que é uma situação que se repete em cada mandato. Afirmou que os municípios têm dificuldade em conseguir um profissional de psiquiatria, assim como de outras especialidades da medicina.

Hammes falou sobre a quantidade de atendimentos de psicologia, e da fila de espera de mais de 1.300 pessoas. Disse que a falta de atendimento afeta toda a família, e que só há uma solução: o município contratar mais psicólogos. Afirmou que não precisa propor Termo de Ajustamento de Conduta cobrando a contratação dos profissionais para um problema que todos reconhecem que existe.

SITUAÇÃO NO ESTADO

Representando a Gerência Regional de Saúde do Estado, Sirlei Fávero Cetolin disse que normalmente a saúde mental é o último item da pauta dos gestores nas reuniões; que normalmente cobram mais leitos de internação, ou que as cobranças são pela saúde física, por leitos em hospital. Ela afirmou que entende que internação é para quando todos os outros setores falharam. Citou que há em torno de 750 mil pessoas em Santa Catarina precisando de algum tipo de atendimento de saúde mental.

A vereadora Maria Tereza Capra, ao fazer uso da palavra, lembrou que em 2019 fez uma audiência pública sobre o mesmo tema, e que desde então não se teve praticamente nenhum avanço. Que muitos dos presentes participaram daquela audiência. Ela cobrou a contratação de mais psicólogos. Disse ainda que desde 2008 se busca a implantação de um Caps AD (Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas) no município, e que sugere inclusive a criação desse órgão através de consórcio com outros municípios.

ATENDIMENTOS NO MUNICÍPIO

Gabriela Gazito, do Departamento de Saúde Mental, falou sobre a realidade do atendimento. Afirmou que hoje as equipes atendem as urgências e emergências, mas também solicitações de 2019 que foram classificadas como não-graves e eletivas. Ela justificou, também, o fato de haver tanta demanda. Disse que o paciente é atendido na psicoterapia tradicional, em que não há data para sair do atendimento (ter alta). Ela afirmou que a equipe propôs uma capacitação em psicoterapia breve, para dar suporte; e que estão pensando também em plantões psicológicos nas unidades de saúde, para situações em que há emergência.

A procuradora do Município, Bárbara Rodrigues, destacou ações da Administração Municipal para reduzir a fila. Citou a implantação recente do Centro de Atendimento Educacional (Caesmo), que prevê atendimento a alunos da rede municipal. Bárbara disse que a Administração estuda contratar mais 10 profissionais de psicologia, por um período de dois anos, para ampliar os atendimentos.

Ao final da audiência, a vereadora Marli da Rosa agradeceu aos participantes pelo debate, disse que os presentes são comprometidos com esse assunto, e que a audiência é o início de uma caminhada. “Começamos aqui mexendo numa ferida, num assunto delicado, mas precisamos mexer para ter resultado ali na frente”, concluiu. A audiência pública pode ser conferida na íntegra no Youtube da Câmara.

Fonte: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores

Foto(s): Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores

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